O que é Gás Natural Liquefeito?

O GNL é o gás natural liquefeito por meio da redução da sua temperatura a -162 ºC à pressão atmosférica normal. Em volume, nas condições métricas padrão (15ºC e 1,013 25 bar), o GNL ocupa cerca de 1/600 do GN em estado gasoso.
A bordo do veículo, o GNL é armazenado a baixa pressão em tanques isolados termicamente e com capacidades que podem variar entre 174 a 511 litros (ver tabela ). O reabastecimento do veículo deve ocorrer pelo menos uma vez por semana, para prevenir diminuição de capacidade de armazenagem devido à evaporação.

O isolamento dos reservatórios, por muito eficaz que seja, por si só não pode manter a temperatura baixa. O GNL é armazenado como produto criogénico, ou seja, em estado liquído à temperatura de evaporação. No caso da água em ebulição (100ºC) a temperatura mantém-se constante durante a mudança de fase de líquida para gasosa mesmo que se continue a fornecer calor.
Isto acontece devido à evaporação. De forma análoga, o GNL mantém-se praticamente a temperatura constante (-162ºC) se for mantido a uma mesma pressão e desde que o vapor (GN na fase gasosa) seja libertado do reservatório. Se isso não se verificar, a pressão e temperatura no interior do reservatório aumentará. No entanto, mesmo a cerca de 7 bar, a temperatura do GNL não será superior a cerca de -128ºC.
Quais São os Beneficios do GNL?
Os numerosos benefícios do GNL estão a conduzir a uma cada vez maior valorização do seu potencial como combustível para o transporte em veículos pesados. Estes benefícios incluem:
- Elevada densidade de energia. Como é um líquido, uma maior quantidade de GNL pode ser armazenado num espaço mais pequeno. Conseguir o melhor rácio volume/peso é uma consideração importante em veículos.
- Velocidade de combustão. Veículos pesados podem ser abastecidos em quatro a seis minutos, e a composição do combustível pode ser determinada com um alto grau de precisão pois a maior parte do GNL produzido para veículos tem agora 99% ou mais de metano. Este controlo da composição do gás natural resulta em sistemas de combustível e motores afinados com mais precisão, os quais levam à optimização do desempenho e portanto a maior economia de combustível e a emissões mais baixas.
- Entrega e disponibilidade. O GNL é muitas vezes transportado em camiões reboque que carregam mais de 40 mil litros, em pequenos camiões cisterna e reboques, vagões ferroviários, e navios metaneiros para GNL com capacidades que atingem os 114 milhões de litros. Os camiões reboque de GNL são muitas vezes utilizados para reabastecer postos GNL, tal como se entrega o gasóleo ou a gasolina.
Investigações em andamento prometem reduzir o custo das instalações de abastecimento de GNL, produzir reservatórios de combustível mais leves e aumentar a eficiência dos motores
Estações de Abastecimento de GNL e LCNG
LCNG é gás natural comprimido (GNC) produzido a partir de gás natural liquefeito (GNL). Em zonas distantes da rede de gás natural, a instalação deste tipo de estações é vantajosa.O GNL chega à estação por via rodoviária, em camiões, sendo as principais componentes da estação de GNL as seguintes:
- tanque criogénico para armazenagem do GNL (normalmente, com capacidade entre os 50 mil e os 100 mil litros);
- tubagem (pode ser isolada por sistema de vácuo)
- bomba;
- permutador de calor;
- abastecedor;
- painel de controlo.
Uma estação LCNG tem, em relação à de GNL, mais uma bomba, um vaporizador e um abastecedor . Neste sistema, o GNL à temperatura criogénica (-162ºC) e a baixa pressão é convertido em GNC, com consumos de energia inferiores aos de uma estação de compressão. A potência requerida pelo sistema bomba/vaporizador é 1/10 a 1/20 à de um sistema de compressão tradicional.
Para determinados veículos, a autonomia necessária não é conseguida com o GNC. Nestes casos, a utilização de GNL traz vantagens. Uma estação LCNG pode abastecer tanto veículos a GNL como a GNC, mantendo a aparência de uma estação de abastecimento convencional.
Mais informação em: http://www.apvgn.pt/
O Futuro Sem Petróleo

“O petróleo tornou fácil a nossa vida nos últimos 100 anos, mas agora prepara-se para a tornar muito difícil”
Haverá Petróleo Daqui a 35 Anos?
Fiz esta pergunta a várias pessoas e estranhamente todas pensam que só daqui a muito, muito tempo é que deverá começar a faltar o petróleo e que nessa altura haverá outros combustíveis para o substituir.
Aliás, até há quem pense que ainda não há viaturas com um novo tipo de propulsão porque o lobby das empresas petrolíferas, bastante poderosas, não deixa que esses inventos sejam colocados ao serviço das pessoas. Vão-se desiludir os que pensam que para enfrentar o futuro bastará ter uma estratégia que assegure quem nos venda petróleo, garanta a protecção do seu transporte ao mesmo tempo que se tenta diminuir o consumo através do incremento das fontes de energia alternativas.
Geólogos e banqueiros acreditam que estamos a atingir o pico do petróleo enquanto políticos e empresas petrolíferas são mais optimistas e prevêem que tal só acontecerá dentro de algumas décadas. As previsões quanto ao iminente esgotamento das reservas de hidrocarbonetos acompanham a indústria desde o boom de Titusville-Pensilvânia (1).
Ninguém tem toda a informação necessária para poder estimar quando vai acabar o petróleo, no entanto, há vários indícios de que estejamos a atingir o “pico do petróleo” o que significa d’oravante que a produção vai diminuir progressivamente enquanto a procura será cada vez maior. Assim sendo, estima-se que o fim do petróleo será atingido dentro de 3 a 4 décadas.
Normalmente, tais previsões pecam por não considerarem as constantes inovações tecnológicas que, recorrentemente, revolucionam o sector.
Há uns anos atrás não se pensava ser possível, por exemplo, explorar petróleo em áreas do oceano com mais de 3000m de coluna de água e mais de 2000 m de chão oceânico.
O poder do petróleo
Nos últimos cento e cinquenta anos, a história da humanidade confundiu-se com a história do petróleo. Embora haja registos da utilização de petróleo desde os egípcios, a indústria petrolífera moderna iniciou-se em 1859 na Pensilvânia.

Vejamos algumas previsões do pico da produção mundial de petróleo
Pensava-se que o petróleo era uma espécie de resíduo líquido de depósitos de carvão que abundavam na região. No início extraiu-se apenas o querosene para a iluminação, mas com o advento da indústria automobilística (em 1896 Henry Ford fabricou o seu primeiro modelo), da aviação (os irmãos Wright voaram em 1903) e a sua importância nas guerras, tornaram-no o principal produto estratégico do mundo moderno.
Deste ciclo de eventos registam-se alguns dados importantes e que atestam a importância do petróleo no século XX. Um importante facto que muito contribuiu para o seu valor estratégico e que se deve a Winston Churchill, lorde do Almirantado da Marinha inglesa que, em 1911, substitui o carvão pelo petróleo como energia para seus navios, conseguindo mais velocidade e, em especial, mais autonomia. Em 1914, o exército britânico levou para França apenas 827 viaturas motorizadas e 15 motocicletas. Quatro anos depois, tinha acumulado 56000 camiões, 23000 automóveis e 34000 motocicletas. Quando os americanos entraram na guerra, em 1917, levaram mais de 50000 veículos motorizados.
A segunda Guerra Mundial foi travada com o petróleo e pelo petróleo, já que tanto a Alemanha como o Japão se esforçavam por alargar a sua hegemonia a regiões distantes, produtoras de petróleo, de modo a garantir a continuação das suas economias industriais em rápido crescimento. O petróleo foi também a causa da sua derrota.
As 100 maiores empresas do século XX estão quase todas ligadas ao automóvel ou ao petróleo. E os nomes de John Rockeffeler (fundou a Standard Oil em 1870), Paul Getty, Leopold Hammer, Alfred Nobel, Nubar Gulbenkian e Henry Ford tornaram-se conhecidos por estarem associados ao petróleo ou ao automóvel.
O Que é o Petróleo
O petróleo e outros combustíveis fósseis são o resultado de processos geológicos, no interior da terra, há milhões de anos atrás. Os combustíveis fósseis foram criados quando a matéria orgânica deteriorada e aquecida foi comprimida no subsolo sendo transformada em cadeias e agrupamentos de átomos de hidrogénio e carbono. O hidrogénio e o carbono são elementos químicos com a estrutura atómica mais simples, que não pode ser mais reduzida. As moléculas são o agrupamento de átomos e são as componentes básicas dos compostos, neste caso hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos mais leves, como os gases metano e propano, são constituídos por moléculas que contêm muito poucos átomos de hidrogénio e de carbono. A gasolina e os óleos lubrificantes são hidrocarbonetos líquidos, têm mais átomos por molécula. Os hidrocarbonetos muito pesados, que se apresentam na forma semi-sólida ou sólida, como o alcatrão e a cera parafínica, contêm cadeias e agrupamentos mais complexos de átomos de hidrogénio e de carbono.
A matéria orgânica que desencadeou o processo de formação do petróleo compunha-se de algas que terão «florido» nas águas pouco profundas de lagos e oceanos pré-históricos, durante períodos longos e propícios de aquecimento global, entre os 300 milhões e os 30 milhões de anos atrás. Essa acumulação viscosa de plantas mortas, chamada querogénio, incorporou-se em sedimentos subaquáticos que vieram a ser empurrados para baixo ou dobrados por movimentos ocorridos na crosta terrestre. As forças tectónicas enterraram-nos a uma profundidade entre os 2200 e os 4500 metros. A «janela do petróleo» situa-se entre os 2200 e os 4500m de profundidade. Só nesta «janela», tendo em consideração que a temperatura aumenta cerca de 14º Fahrenheit de 300 em 300m e também aumenta a pressão, os antigos sedimentos contendo querogénio são transformados em rocha sedimentar saturada de hidrocarbonetos. A profundidades abaixo dos 4500m, as pressões e a temperatura são tão elevadas que as moléculas de hidrocarboneto se decompõem no composto mais simples, o gás metano, grande parte do qual se vai escapando pelas camadas de rocha, ao longo do tempo. Embora a «janela do petróleo» se situe entre os 2200 e os 4500m é muitas vezes descoberto mais perto da superfície, como aconteceu na Pensilvânia. Estas infiltrações devem-se ao aumento de pressão subterrânea.
Há vários tipos de petróleo, o mais abundante e comum é o chamado ”petróleo convencional”, de extracção mais fácil e barata, e todo o restante é o “não convencional”, que inclui o que está a grandes profundidades sob o leito dos oceanos, o que se apresenta misturado com areias (chamado petróleo pesado) e o das regiões polares. O primeiro, o convencional, corresponde a cerca de 95% do petróleo extraído e é o mais abundante.
Que Petróleo Há?
Segundo Colin Campbell, que foi geólogo-chefe da Amoco, director-geral da Fina e trabalhou para a BP, Texaco, Shell, Chevron Texaco e Exxon numa dezena de países, “até 2005 foram extraídos cerca de 944 biliões de barris, sobram 764 biliões a extrair dos campos conhecidos ou em reservas e 142 biliões de reservas a descobrir, isto é, de locais onde se espera encontrar crude. Se isto for verdade, então o pico de produção será atingido muito em breve”.
O Pico de Hubbert ou de Produção
Para se chegar a estes cálculos usam-se modelos matemáticos dos quais o mais famoso é o Pico de Hubbert. M. King Hubbert, um geofísico, que criou um modelo matemático da extracção do petróleo que previu que a quantidade total de petróleo extraída ao longo do tempo seguiria uma curva logística em forma de sino (curva de Hubbert), seja num campo individual ou no planeta como um todo. Na parte ascendente da curva os custos de produção são significativamente mais baixos do que na parte descendente, quando é necessário um maior esforço (despesa) para extrair petróleo de poços que estão a ficar vazios. Assim, o petróleo é abundante e barato na curva ascendente, escasso e caro na curva descendente. O pico da curva coincide com o ponto em que as reservas mundiais de petróleo estão consumidas em 50%. “Peak Oil” (pico do petróleo) é o termo da indústria para o topo da curva. Uma vez passado o pico, a produção de petróleo começa a decair enquanto os custos começam a subir.
Em termos práticos e bastante simplificados isto significa que se no ano 2006 ocorreu o pico do petróleo, a produção mundial de petróleo no ano 2026 será a mesma de 1986. Contudo, a população mundial em 2026 será muito maior (aproximadamente o dobro) e muito mais industrializada do que era em 1986. Consequentemente, a procura mundial de petróleo ultrapassará a sua produção por uma margem significativa. Quanto mais a procura exceder a produção, mais alto será o preço. Em última análise, a questão não é “Quando acabará o petróleo?”, mas sim “Quando acabará o petróleo barato?”.
O pico de produção de petróleo nos EUA deu-se em 1970, embora só se tenha tido essa noção uns três anos mais tarde. Em 1970, a produção máxima foi de 11,3 milhões de barris por dia, o valor mais alto registado. Em meados dos anos 80 a produção era da ordem dos 9 milhões de barris por dia e actualmente é da ordem dos 8 milhões de barris por dia. Em 1970 a procura nos EUA equiparou-se à produção total, terminando assim a capacidade de produzir mais do que necessário, tendo Hubbert previsto este facto em 1956.
Em 1956, Hubbert, com o seu modelo matemático previu correctamente o pico da produção de petróleo nos EUA com 15 anos de antecedência. Embora controverso, este modelo tem-se mostrado a cada ano que passa mais eficaz em modelar correctamente a exploração de petróleo. Ultimamente tem vindo a ganhar influência junto dos decisores políticos dos governos e da indústria do petróleo. Actualmente, raramente se debate se haverá ou não um pico, mas quando ocorrerá e qual a severidade dos efeitos posteriores. Mesmo os mais generosos relatórios corporativos estimam que as reservas de petróleo não durem mais que 100 anos.
A pouco e pouco vamos-nos aproximando do que se chama o pico de produção de petróleo convencional, que se prevê que ocorrerá antes de 2010, podendo já ter sido. O pico corresponde ao consumo de metade do petróleo convencional que havia para consumir. Quer dizer que teremos ainda outra metade para consumir, mas agora não há capacidade para continuar a responder apenas com petróleo convencional, à procura que entretanto, essa sim, não pára de crescer.
Não são só as economias desenvolvidas que se mostram sempre mais vorazes para o petróleo, mas também as economias em vias de desenvolvimento, sobretudo os gigantes como a China e a Índia.
Este aumento de procura e falta de elasticidade na resposta, tem como consequência uma subida de preço que fará com que o restante petróleo, não convencional, que tem custos de extracção mais elevados e exterioridades maiores, se torne mais e mais competitivo e venha a ser cada vez mais produzido.
Matthew Simmons, presidente da Simmons & Co. International, uma firma de Houston especializada em investimentos bancários no sector da energia, perito reconhecido na área da energia, disse no encontro de 26OUT06 da Association for the Study of Peak Oil and Gas (ASPO), em Boston, que a produção mundial de crude diminuiu de 84.35 milhões de barris por dia (mbd) para 83.98 mbd entre o final de 2005 e meados de 2006. Segundo ele, se a tendência se mantiver durante mais uns 10 meses poderemos ter de concluir que o pico da produção de petróleo aconteceu em Dezembro de 2005.
Quadro Resumo dos Principais Produtores, Importadores e Consumidores de Petróleo. Mbd – Milhões de barris por dia.
(1) Países que já passaram o pico de produção.
(2) Fonte: Estatísticas de Energia de 2005 do Governo dos EUA, inclui crude e gás natural. (Link)
(3) Fonte: CIA World Factbook, valores de referência de 2005 para a importação e consumo de petróleo

O aumento da procura de petróleo, devido essencialmente ao rápido desenvolvimento das economias da China e da Índia, ajudaram a que se atingisse o valor record do preço do barril de petróleo que atingiu o máximo de 78,65 dólares no Mercado de Futuros de Londres, a 10 de Agosto de 2006. Desde então, desceu 41,5 por cento, para 55,59 dólares. O governo português baseia os seus cálculos económicos num valor médio para os próximos dois anos de 62 dólares.
Prevê-se que o pico do gás natural ocorra uma década mais tarde do que o do petróleo.
O Pico das Descobertas
O pico das descobertas de novas fontes de petróleo ocorreu em 1964 e, desde então para cá, tem-se vindo a descobrir cada vez menos, tendo-se produzido a um ritmo crescente até às crises dos anos 70, quebrando então e retomando depois, um ritmo crescente de aumento de produção. A maior de todas as preocupações é o facto do volume de petróleo extraído do subsolo ser, desde há 20 anos, superior ao volume descoberto. Hoje, apenas se descobre um novo barril de petróleo por cada 4 que se produz, com tendência a agravar-se cada vez mais a diferença entre descoberta e produção. As reservas mundiais estão a baixar três vezes mais depressa do que o ritmo a que se fazem novas descobertas.
A Geopolítica do Petróleo
Os países vão enfrentar a dura realidade do fim do petróleo a que se junta o efervescer de uma luta ideológica. As nações islâmicas possuem a maior parte do petróleo remanescente no mundo e todo o mundo depende dele e o pretende. Esta relação de dependência do ocidente do petróleo do mundo islâmico permitiu o enriquecimento das classes dominantes do Médio Oriente, cujas fantasias transformaram uma religião poética e decorosa numa ameaça para as sociedades ocidentais. Os EUA estão na primeira linha dos clientes do petróleo que resta, mas há outros clientes também importantes, nomeadamente a China, a Índia, a UE e o Japão, ávidos por energia.
Para completar o cenário há ainda que enquadrar novos perigos de conflitos relacionados com a segurança do abastecimento, fruto do desequilíbrio entre a oferta e a procura e a concorrência. Esta rivalidade explica a corrida em que se lançaram os Estados Unidos, os paí-ses europeus, a China, o Japão e a Índia, para pôr os pés nos países detentores de reservas e controlar as rotas marítimas e terrestres entre os centros de produção e as grandes zonas de consumo.
A estratégia dos EUA é a mais clara, pretendem controlar as grandes reservas que ainda existem no Golfo Pérsico. A guerra do Iraque, permitiu a Washington livrar-se da presença francesa, russa e italiana naquele país e deveria permitir aos EUA tomarem conta das importantes reservas petrolíferas desse país, assegurar para eles próprios uma parte das suas exportações, e pagarem a “reconstrução” desse país, à sua maneira, com as receitas das restantes exportações. Este desígnio imperial ambicioso confronta-se com grande resistência, como é quotidianamente registado. Na realidade os EUA não dispõem nem de um plano exequível nem dos recursos humanos adequados para atingirem a finalidade que o seu governo se propôs atingir. O poder hegemónico dos EUA tem estado a ser colocado em causa sob a pressão dos atentados no terreno e da opinião pública internacional. O fim do petróleo ditará também o fim da hegemonia americana, embora os EUA ainda se preparem para partilhar com o Canadá petróleo refinado a partir de areias betuminosas do Canadá e petróleo obtido da liquefação do carvão, como tiveram de fazer os Alemães na 2ª Grande Guerra. Estima-se que os EUA tenham uma reserva de carvão para cerca de 200 anos. No entanto estes processos são muito dispendiosos, consome-se muita energia para obter pouco mais do que outra tanta energia.
A Rússia tem estado a viver uma situação económica difícil, mas as suas enormes reservas de gás e petróleo siberiano e mesmo o polar dão-lhe uma nova oportunidade de recuperar, temporariamente, a sua grandeza. A Rússia já é uma superpotência energética, embora tendo de fazer muitos investimentos para poder vender à UE gás e petróleo da bacia do Cáspio, do Kazaquistão e da Sibéria. A bacia do Cáspio tem um potencial enorme, com a possibilidade de aumentar a produção de 1,6 milhões de barris/dia (b/d), em 2001, para 5 milhões de b/d, em 2010.
O Oriente Médio detém cerca de dois terços das reservas petrolíferas mundiais comprovadas. O tamanho das reservas, juntamente com o baixo custo de produção, garante que essa região continuará a desempenhar um papel importante no mercado energético mundial. A Arábia Saudita continuará durante mais alguns anos a ter um papel fundamental nos mercados petrolíferos globais como maior exportador de petróleo. Além disso, a Arábia Saudita assegura a segurança energética internacional mantendo uma considerável capacidade de produção extra, que pode ser rapidamente activada em caso de interrupção grave de fornecimento em qualquer lugar do mundo. O petróleo da Arábia Saudita provém quase todo (75%) de dois imensos campos “supergigantes” que foram activados há quase cinco décadas, nos quais já se usa extensivamente injecção de água e já se especula que o seu fim também não estará longe. A situação dos demais países árabes não deve ser melhor.
Os extraordinários avanços económicos da China dos últimos 20 anos poderão ser comprometidos pela escassez de petróleo, pois o país tem previsto a importação de até 50% de seu consumo total de combustível fóssil em 2020. No entanto, a China detém grandes reservas de gás de 2,7 triliões de metros cúbicos na Região Autónoma da Mongólia Interior que poderão ser a solução durante mais algum tempo. O objectivo da nação é que o fornecimento de gás alcance 8% de seu consumo total de energia nos 20 primeiros anos deste século. A China foi um dos primeiros países a utilizar o gás natural na Antiguidade, com uma reserva potencial de 38 triliões de metros cúbicos, mas esse combustível representa apenas 2,1% do actual consumo de energia do país, ou seja 1/10 da média mundial.
A China está a construir em grande escala uma rede de tubagens por toda a República. A mais proeminente é o projecto “Gás Ocidental ao Leste da China”, que foi planeado para transportar 12 biliões de metros cúbicos anuais de gás dos campos da região ocidental à região do delta do rio Yangtse, no leste do país, onde a economia em auge pede fontes de energia financiáveis e suficientes.
A África está a desempenhar um papel cada vez mais importante como fornecedor de energia. A produção de petróleo representa uma renda considerável em países como Nigéria, Angola, Gabão, Guiné Equatorial, República do Congo, Chade e Camarões. São Tomé e Mauritânia também se podem tornar fornecedores nos próximos anos. É necessário investimento directo estrangeiro para desenvolver os recursos energéticos africanos, visto que muitos dos novos campos petrolíferos estão em águas profundas e requerem instalações avançadas, intensivas em capital, para serem explorados.
O pouco petróleo da UE vem do Mar do Norte que já está na fase descendente da produção 7% ao ano. A UE é absolutamente carente de combustível e a sua estratégia não é muito clara, provavelmente acredita que os seres humanos, estimulados pelo mercado, usarão o seu engenho para descobrir um substituto para o petróleo e o gás, logo que o preço começar a subir em flecha. Embora não tendo uma estratégia comum definida, a UE quer uma redução de 20% do consumo de energia até 2020. Se tal acontecer estaremos por certo em linha com a diminuição da produção de petróleo. Prova da desunião é a construção do novo gasoduto norte-europeu (GNE), pela Alemanha e Rússia, de 1200Km, sob o Báltico, para trazer gás da Rússia directamente para a Alemanha sem pagar contrapartidas à Polónia, Estados Bálticos e Ucrânia.
Consequências do Fim do Petróleo
O petróleo é o sangue da nossa civilização, é ele e os seus derivados que permitem quase toda a actividade humana, desde os transportes, fábricas, electricidade, plásticos e especialmente toda a produção de alimentos e fornecimento de água.
Nos EUA, são necessárias aproximadamente 10 calorias de combustível fóssil para produzir 1 caloria de comida. Se a embalagem e o transporte forem também factores da equação, a proporção sobe consideravelmente. Esta disparidade tem sido permitida pela abundância de petróleo barato. A maioria dos pesticidas é obtida a partir do petróleo, e todos os fertilizantes comerciais são baseados no amoníaco. O amoníaco é produzido a partir do gás natural, um combustível fóssil sujeito a um perfil de esgotamento semelhante ao do petróleo. O petróleo permitiu a existência de ferramentas agrícolas como os tractores, sistemas de armazenamento de alimentos como as câmaras frigoríficas, e os sistemas de transporte de mantimentos como os camiões de distribuição. A agricultura baseada no petróleo é o factor principal que levou ao aumento em flecha da população mundial, de 1.000 milhões em meados do séc. XIX até aos 6.300 milhões no virar do séc. XXI. Enquanto a produção petrolífera subiu, subiu igualmente a produção alimentar. Enquanto a produção alimentar subiu, subiu igualmente a população. Enquanto a população subiu, subiu também a procura de alimentos, o que levou ao aumento da procura do petróleo. Será possível a terra alimentar tanta gente sem petróleo?
No espaço de poucos anos após ocorrer o pico do petróleo, o preço dos alimentos vai disparar, tal como os preços de produção, armazenamento, transporte e embalagem, que também terão de subir.
No nosso planeta o petróleo também é necessário para a distribuição da quase totalidade da nossa água potável. O petróleo é usado para construir e conservar aquedutos, barragens, canalizações, poços, bem como para bombear a água que chega às nossas torneiras. Tal como com os mantimentos, o custo da água potável vai subir com a subida do preço do petróleo.
O petróleo é largamente responsável pelos avanços efectuados pela medicina nos últimos 150 anos, permitiu o fabrico em massa de medicamentos, de equipamentos cirúrgicos e de infra-estruturas de saúde pública como os hospitais, as ambulâncias, as estradas, etc..
Os combustíveis alternativos de que se fala, de que falaremos no próximo artigo, não chegam para continuarmos a levar a vida a que nos habituámos. O hidrogénio que muitos consideram como potencial substituto do petróleo provavelmente não nos assegura nenhum futuro devido à sua complexidade e à energia que é necessário para o gerar.
As energias renováveis baseadas em sistemas eólicos e solares têm um enorme problema de escala e requerem muita energia até serem colocados em serviço.
Reflexão Final
A energia é o elemento vital da economia mundial. Apesar dos esforços para aumentar a eficiência energética e dos investimentos em desenvolvimento de novas tecnologias energéticas, o petróleo e o gás natural continuarão decisivos por muitos anos. O desenvolvimento económico mundial requer cada vez mais petróleo e gás. Alguns analistas estimam que a China sózinha poderá ser responsável por um terço do aumento marginal mundial da procura de petróleo nos próximos anos.

Previsão de consumo de petróleo por sector de actividade.
Portanto, o mundo precisa descobrir e desenvolver fontes fiáveis de petróleo e gás a preços que permitam sustentar o crescimento económico. Infelizmente, as perspectivas indicam que tal não será possível, são poucas as descobertas que tem havido e são normalmente encontradas em países com regimes políticos controversos ou com geografia física muito difícil.
O fim do petróleo conduzirá inevitavelmente a gigantescas consequências económicas e sociais para o mundo já que a civilização moderna depende dos combustíveis fósseis baratos e abundantes, especialmente para os transportes, produção de alimentos, processos químicos industriais, tratamento de água, aquecimento doméstico, geração de electricidade, etc. Imagine o mundo sem gasóleo para os tractores e ceifeiras, sem pesticidas, sem plásticos, sem combustível para os aviões e navios, etc, etc.
Resumindo de um modo simplificado e talvez chocante, podemos esperar nos próximos anos uma alteração radical da economia, com risco de colapso económico, mais guerra, fome generalizada e um decréscimo maciço da população mundial. Até agora as crises e os conflitos têm sido essencialmente de natureza política mas daqui para a frente serão, na sua maioria, de natureza económica.
Quem gosta dos filhos e dos netos tem de começar já hoje a contribuir para a redução do consumo de petróleo e dos seus derivados, por exemplo, separando o lixo para que possa ser reciclado. Os portugueses, segundo notícia de 07JAN07 do Jornal de Notícias, desperdiçam 60% da energia que consomem, sendo esta mais uma pista para retardar o fim do petróleo, dando a oportunidade à ciência para encontrar soluções implementáveis.
No próximo artigo continuar-se-á a desenvolver este tema, identificando as fontes de energia alternativas conhecidas. Será que elas serão a solução para substituir o petróleo e o gás? Como navegarão os navios sem petróleo? Como será a nossa vida sem petróleo?
Biocombustíveis: Biodevastação, Fome & Falsos Créditos de Carbono

“A avidez da Europa pelos biocombustíveis está a provocar a desflorestação e a subida dos preços dos alimentos, exacerbada por um falso sistema de contabilidade que atribui méritos de redução das emissões de CO2 às nações que desperdiçam o CO2. Torna-se necessário um esquema de certificação obrigatória dos biocombustíveis para proteger os ecossistemas florestais mais sensíveis, para estabilizar o clima e para salvaguardar a protecção da nossa alimentação.”
Os Biocombustíveis não são Obrigatoriamente Neutros em Carbono nem Sustentáveis
Os biocombustíveis são combustíveis derivados de plantas e incluem a biomassa queimada directamente, principalmente o biodiesel a partir das oleaginosas, e o bioetanol de cereais, seivas, ervas ou madeira fermentados ( Biofuels for Oil Addicts , SIS 30). Os biocombustíveis têm sido propagandeados e considerados erradamente como ‘neutros em carbono’, não contribuindo para o efeito de estufa da atmosfera; quando são queimados, o dióxido de carbono que as plantas absorvem quando se desenvolvem nos campos é devolvido à atmosfera.

Mae-Wan Ho
Ignoram-se assim os custos das emissões de CO2 e da energia de fertilizantes e pesticidas utilizados para melhorar as colheitas, dos utensílios agrícolas, do processamento e refinação, das refinarias, do transporte e das infra-estruturas para transporte e distribuição.
Os custos extra da energia e das emissões de carbono podem ser bastante significativos principalmente se os biocombustíveis forem feitos num país e exportados para outro, ou pior ainda, se as matérias-primas como as oleaginosas, forem produzidas num país e vierem a ser refinadas noutro. O que é muito provável acontecer, se continuarem as tendências actuais.
Procura Crescente dos Biocombustíveis
A procura de biocombustíveis tem vindo a aumentar à medida que o mundo começa a ter falta de combustíveis fósseis. Os preços do petróleo e do gás dispararam nos últimos anos, enquanto que a pressão para reduzir as emissões de CO2 a fim de reduzir o aquecimento global aponta cada vez mais para que os biocombustíveis sejam uma das principais soluções. George W. Bush propôs os biocombustíveis para curar a dependência do país em relação ao petróleo . Foi acenada uma “visão de mil milhões de toneladas” para disponibilizar 1,3 mil milhões de toneladas de biomassa seca para a indústria dos biocombustíveis em meados deste século, que fornecerão 30 por cento da utilização de combustíveis dos EUA, se tudo correr bem, como seja um aumento de cinquenta por cento das colheitas. Tony Blair inaugurou no fim de Junho de 2006 a Biofuels Corporation, plc, a primeira instalação de processamento de biocombustível, de 250 000 toneladas, no Reino Unido que vai utilizar óleo de castor e óleo de palma importados assim como óleo de semente de colza de produção interna para fabricar biocombustível. Mas o Reino Unido mantém-se muito atrás de outros países da União Europeia na utilização de biocombustíveis.
Directiva de Biocombustíveis da União Europeia lidera a Indústria nos Países do Terceiro Mundo
Em Maio de 2003 a União Europeia adoptou uma Directiva de Biocombustíveis para promover o uso de biocombustíveis nos transportes, com uma previsão de 5,75 por cento de quota de mercado em 2010, a atingir os 8 por cento em 2015. Não é provável que estas metas sejam alcançadas segundo as actuais projecções. A quota de mercado para a UE dos 25 está em 1,4 por cento; a Áustria vai à frente com 2,5 por cento, enquanto que a quota do Reino Unido é de apenas 0,2 por cento.
A Comissão Europeia vai fazer um relatório da evolução antes do fim de 2006; publicou um documento para consulta pública, consulta que terminou em Julho de 2006. Entre as questões consideradas estava a necessidade de um esquema de certificação dos biocombustíveis com base em padrões de sustentabilidade.
Os países da UE já estão a cultivar plantas para bioenergia, em especial a colza e há incentivos e reduções fiscais para os biocombustíveis em dez ou mais países . É provável que as terras agrícolas ‘reservadas’ com o fim de proteger e conservar a biodiversidade sejam de novo utilizadas, agora para culturas energéticas . ( Biodiesel Boom in Europe? SIS30).
Um relatório publicado em 2002 pelo grupo CONCAWE – a associação europeia das companhias petrolíferas para o ambiente, saúde e segurança na refinação e na distribuição – avaliou que, se os 5,6 milhões de hectares de reservas na UE dos 15 fossem todos cultivados intensivamente com plantas energéticas, pouparíamos apenas 1,3 a 1,5 por cento das emissões de transportes rodoviários, ou seja, cerca de 0,3 por cento do total de emissões desses 15 países. Estas e outras estimativas igualmente pessimistas estão a alimentar o crescimento das indústrias de biocombustíveis nos países do Terceiro Mundo, onde, dizem-nos agora, há muito solo “livre” para o cultivo da bioenergia. O sol brilha mais durante todo o ano, portanto as colheitas crescem mais depressa. Rendem mais e a mão-de-obra é mais barata.
Mas, no caso dos geneticamente modificados (GM), dizem-nos que não há terras suficientes, e que precisamos de cereais GM para aumentar a produção e alimentar o mundo. Até aqui, a produção das searas de GM ainda não aumentou significativamente, e os GM são esmagadoramente rejeitados em todo o mundo, principalmente nos países africanos para onde os alimentos e as rações GM estão a ser escoados como “ajuda alimentar”. As companhias biotécnicas já estão a anunciar as culturas GM como culturas energéticas e esperam assim menos regulamentações e uma maior aceitação pública, visto que não virão a ser usadas como alimentos ou rações. Mas isso faz com que o nosso ecossistema e as culturas alimentares fiquem amplamente expostas à contaminação das culturas GM que estão longe de ser seguras . ( Making the World GM-Free & Sustainable ). O Centro de Investigação de Energia do Reino Unido, que é formado por membros de todos os conselhos de investigação do governo, já incluiu a “percepção pública e utilização de tecnologias GM para a bioenergia” no seu “Short term Research Challenge” (Concurso de Investigação a curto prazo).
Desflorestação, Extinção de Espécies e Aumento do Preço dos Alimentos
Os biocombustíveis são más notícias, em especial para os países pobres do Terceiro Mundo. As culturas energéticas ocupam terra valiosa que podia ser utilizada para cultivo de alimentos, e a segurança alimentar está a transformar-se numa questão escaldante. A produção mundial de cereais diminuiu em seis dos últimos sete anos, colocando as reservas ao mais baixo nível de há mais de trinta anos. O esgotamento crónico de aquíferos nos maiores celeiros mundiais, a seca e as temperaturas altas estão a fazer pagar o seu preço e prestes a prejudicar ainda mais a produção alimentar. A pressão sobre o solo feita pelas culturas alimentares e energéticas acelerarão certamente a desflorestação e a extinção das espécies e, simultaneamente, provocarão aumentos nos preços dos alimentos em todo o mundo, atingindo mais fortemente os países mais pobres, com maiores carências alimentares.
Não há Terras que Cheguem Para as Culturas Energéticas
Os cálculos baseados no melhor dos cenários de produções irrealistas de grandes colheitas e de alto aproveitamento de biocombustíveis, desde o seu processamento até à utilização final, acabam por exigir 121 por cento de toda a terra arável dos Estados Unidos para produzir biomassa suficiente para substituir o consumo anual dos combustíveis fósseis .
O próprio relatório técnico da UE publicado em 2004 mostra que a meta de 5,75 por cento de substituição dos combustíveis fósseis por biocombustível exigirá pelo menos 14 a 19 por cento de terra arável para culturas energéticas. Não restará nenhuma terra reservada para proteger a biodiversidade natural, que na UE é de apenas 12 por cento da terra agrícola.
Dados por satélite revelam que 40 por cento do solo do planeta já estão a ser utilizados para a agricultura, de cereais ou de pastagens. Não há solo que chegue para o cultivo de alimentos, quanto mais para as culturas energéticas.
Aceleração da Desflorestação no Brasil, na Malásia e na Indonésia
As florestas tropicais são os mais ricos armazéns de carbono e os mais eficazes esgotos de carbono do mundo. As estimativas atingem os 418 t C/ha (toneladas de carbono por hectare) para a quantidade de carbono existente, e a 5 a 10 t C/ha cativado por ano, em que quarenta por cento é carbono orgânico no solo . (Sustainable Food System for Sustainable Development, SIS27). A quantidade de carbono existente nas florestas antigas será sempre maior e, segundo um estudo recente no sudeste da China, só nos 20 centímetros da superfície do solo dessas florestas antigas, o carbono orgânico do solo aumentou em média a um ritmo de 0,62 t C/ha por ano entre 1979 e 2003. Quando as florestas tropicais são deitadas abaixo a um ritmo de mais de 14 mil hectares por ano, libetam-se umas 5,8 toneladas de carbono para a atmosfera, das quais só uma pequena parte será retida de novo nas plantações.
A pressão adicional sobre o solo por parte das culturas energéticas acarretará uma maior desflorestação e uma maior aceleração do aquecimento global e da extinção de espécies.
Até agora já foram limpas enormes extensões da floresta do Amazonas no Brasil para o cultivo da soja destinada a alimentar a indústria da carne. Se se acrescentar a exigência do biodiesel da soja pode-se provocar a morte de toda a floresta. Simultaneamente, as plantações da cana-de-açúcar que alimentam a enorme indústria do bioetanol do país também estão a invadir o Amazonas, mas incidem sobretudo na floresta atlântica e no Cerrado, um ecossistema de savana de grande variedade, dois terços da qual já estão destruídos ou degradados (Biofuels Republic Brazil, nesta série).
A pressão sobre as florestas na Malásia e na Indonésia ainda é mais devastadora. Um Relatório dos Amigos da Terra, The Oil for Ape Scandal revela que, entre 1985 e 2000, o desenvolvimento das plantações de óleo de palma provocou cerca de 87 por cento de desflorestação na Malásia. Em Sumatra e em Bornéu, desapareceram 4 milhões de hectares de florestas a favor do cultivo da palma; e está prevista a limpeza de mais 6 milhões de hectares na Malásia e 16,5 milhões de hectares na Indonésia.
O óleo de palma é agora chamado o “diesel da desflorestação” , porque se prevê um aumento dramático da produção do óleo de palma na Indonésia e na Malásia com a febre dos biocombustíveis. Já se utiliza amplamente na indústria alimentar e cosmética o óleo de palma, que substituiu a soja como primeiro óleo comestível mundial. E como os preços do petróleo e do gás subiram até aos píncaros, o óleo de palma está a ocupar o lugar de principal cultura energética. Com produções de 5 toneladas (ou 6 000 litros) de óleo bruto por hectare por ano, o óleo de palma produz muito mais do que qualquer outra cultura oleaginosa ; por exemplo, a soja e o milho geram apenas 446 e 172 litros por hectare por ano.
Prevê-se que a produção actual global de óleo de palma de mais de 28 milhões de toneladas por ano duplique em 2020. A Malásia, o maior produtor e exportador mundial de óleo de palma, está a tornar obrigatório que, em 2008, o diesel venha a conter cinco por cento de óleo de palma, enquanto que a Indonésia planeia reduzir para metade o seu consumo nacional de petróleo em 2025, através da sua substituição por biocombustíveis. A Malásia e a Indonésia anunciaram um compromisso conjunto de produzirem, cada uma, 6 milhões de toneladas de óleo bruto de palma por ano para alimentar a produção dos biocombustíveis.
Subidas do Preço dos Alimentos que São Desviados para os Biocombustíveis
A procura de biocombustíveis transformou as culturas alimentares tradicionais em culturas ‘bioenergéticas’. Os alimentos e a energia entram agora em competição pela mesma ‘matéria prima’, o que se traduz num aumento substancial dos preços dos alimentos, muito acima do preço do petróleo e do gás natural que normalmente entram na produção alimentar. Em 2006, cerca de 60 por cento do total do óleo de colza produzido na UE destinou-se ao fabrico de biodiesel . O preço do óleo de colza subiu 45 por cento em 2005, e depois mais 30 por cento até atingir cerca de 800 dólares por tonelada. O gigante alimentar Unilever prevê outro aumento do preço de cerca de 200 euros por tonelada para o próximo ano devido a uma procura adicional de biodiesel. Calcula-se que o custo adicional total do biodiesel para os fabricantes alimentares venha a aproximar-se dos mil euros em 2007.
Os preços dos cereais dispararam. Os preços do milho americano aumentaram mais de 50 por cento desde Setembro de 2006, e atingiram agora o preço mais alto em 10 anos de 4,77 dólares por bushel . A procura americana do bioetanol fez desviar o milho da exportação, deixando desesperados os compradores de milho da Ásia . Os preços mundiais do trigo também atingiram o preço mais alto em 10 anos, de 300 dólares por tonelada, em Outubro de 2006 , por entre os receios de uma crise de abastecimento nos próximos 12 meses se se verificar outro ano decepcionante da produção global. Outra preocupação é que se venha a criar uma procura crescente de biocombustíveis a partir de outras culturas, como o trigo, o milho e a soja.
Outras Preocupações Ambientais
As culturas energéticas esgotam os minerais do solo e reduzem a fertilidade do solo, especialmente a longo prazo, tornando o solo impróprio para as culturas alimentares. Os desperdícios do processamento de todos os biocombustíveis têm significativos impactos negativos no ambiente, que ainda precisam de ser adequadamente avaliados e tidos em consideração. Embora alguns biodiesels possam ser mais limpos do que o diesel, há outros que não o são (ver abaixo). A queima do bioetanol gera agentes mutagénicos e carcinogénicos e aumenta os níveis de ozono na atmosfera ( Ethanol from Cellulose Biomass Not Sustainable nor Environmentally Benign , SIS30).
Equilíbrio de Energia e Poupança de Carbono Desfavoráveis no Seu Conjunto
Os biocombustíveis são classificados, quanto à energia e ao carbono, de formas muito diversas e que não são inteiramente transparentes. Vou usar como definição de balanço energético as unidades de energia de biocombustível produzidas por cada unidade de energia consumida à partida; e como definição de poupança de carbono, a percentagem de emissões de gases com efeito de estufa poupadas por se produzir e utilizar o biocombustível em vez de produzir e utilizar a mesma quantidade de energia de combustível fóssil.
Os biocombustíveis apresentam geralmente um balanço energético pequeno ou negativo numa análise sobre um ciclo de vida, na verdade, quase sempre um balanço negativo se se fizerem as contas bem feitas , o que significa que a energia do biocombustível é menor do que o total da energia gasta em produzi-lo. É provável que a poupança de carbono seja igualmente desfavorável se se incluírem todos os custos.
Actualmente, a maior parte dos estudos energéticos que apresentam um equilíbrio de energia positivo inclui o conteúdo da energia dos subprodutos, tais como o resíduo de sêmea que sobra depois de ser extraído o óleo, e que pode ser utilizado para alimentação dos animais (embora, regra geral, nunca seja utilizado como tal), mas esquece-se de incluir os investimentos em infra-estruturas, tais como os custos em energia e em carbono das instalações de refinaria, e as estradas e armazéns necessários para transporte e distribuição e, evidentemente, os custos de exportação para outro país. Nenhum desses estudos inclui os impactos ambientais. No único caso analisado por investigadores no Flemish Institute for Technological Research, patrocinado pelo Gabinete Belga de Assuntos Científicos, Técnicos e Culturais e da Comissão Europeia, chegou-se à conclusão que “o biodiesel provoca mais problemas de saúde e ambientais porque cria uma poluição mais pulverizada, liberta mais poluentes que promovem a formação de ozono, geram mais desperdício e provocam maior eutroficação”.
No Quadro 1 apresenta-se uma compilação das estimativas de equilíbrio de energia e de poupança em carbono. Calcula-se que o bioetanol da cana-de-açúcar no Brasil tem um equilíbrio de energia de uns incríveis 8,3 em média, e mais de 10,2 nos melhores casos; muito à frente de qualquer outro biodiesel, principalmente dos que são produzidos em regiões temperadas, cujas estimativas vão desde 2,2 até a menos de 1, um equilibro de energia negativo. A poupança de carbono do bioetanol da cana-de-açúcar brasileira entre 85 e 90 por cento, também é de longe maior do que qualquer outro biocombustível, que varia entre apenas 50 por cento a -30 por cento, i.e., a produção e utilização do biocombustível concorre com mais 30 por cento de emissões de gases com efeito de estufa do que a energia equivalente em combustíveis fósseis.
Salvo duas excepções, todas as estimativas incluem a energia nos subprodutos e excluem os custos de infra-estruturas. Nenhuma delas inclui prejuízos ambientais ou esgotamento do solo, ou custos de exportação para outro país. Como se pode ver, com a possível excepção do bioetanol da cana-de-açúcar brasileira, nenhuma das fontes bioenergéticas tem um retorno suficientemente bom para os investimentos em energia e emissões de carbono, mesmo com os melhores disfarces. Quando forem feitas contas realistas, podem todas elas vir a dar um equilíbrio de energia e uma poupança de carbono negativos.
Há características que contribuem para o relativo êxito do bioetanol da cana-de-açúcar. Para além da produtiva taxa de crescimento das culturas no Brasil tropical, a produção envolve um ciclo fechado, em que a energia para a refinaria e processo de destilação provém da queima dos resíduos da cana-de-açúcar; portanto não são necessários combustíveis fósseis. A refinação e a destilação são grandes consumidoras de energia, em especial para o bioetanol. O grande saldo positivo de energia ficaria substancialmente reduzido se fossem incluídos os custos de infra-estruturas e de exportação, embora pudesse continuar a ser positivo.
Balanços Energéticos e Poupanças de Carbono do Biodiesel e do Biometanol
Biodiesel | Balanço energético | Poupança de CO2 |
OSR (UE) | 1.59 | 52% |
OSR (UK) | 1.78 | |
OSR (UE) | 1.90 | |
OSR (Austrália) | 50% | |
Soja (USDoE) | 2.22 | 40% |
Soja (EUA) | 0.53* | |
Bioetanol | ||
Trigo & beterraba (UE) | 1.08 | 27% |
Milho (EUA) | 1.13-1.34 | 13% |
Milho (EUA) | 0.78* | |
Milho (EUA) | 1.14 | 11% |
Milho (EUA) | 0.61 | -30% |
Milho (EUA) | 1.65 | |
Milho (N França) | 1.03 | 24% |
Milho (N França) | 0.94 | 17% |
Beterraba (UE) | 1.18 | |
Madeira (EUA) | 0.64 | |
Madeira (Escandinávia) | 0.80 | |
Cana-de-açúcar (Brasil) | 8.30 – 10.20 | 85 – 90% |
*Inclui custos de infra-estruturas e exclui subprodutos
Há características que contribuem para o relativo êxito do bioetanol da cana-de-açúcar. Para além da produtiva taxa de crescimento das culturas no Brasil tropical, a produção envolve um ciclo fechado, em que a energia para a refinaria e processo de destilação provém da queima dos resíduos da cana-de-açúcar; portanto não são necessários combustíveis fósseis. A refinação e a destilação são grandes consumidoras de energia, em especial para o bioetanol. O grande saldo positivo de energia ficaria substancialmente reduzido se fossem incluídos os custos de infra-estruturas e de exportação, embora pudesse continuar a ser positivo.
Mas mesmo com um resultado positivo em energia e carbono, há sérias dúvidas de que o bioetanol da cana-de-açúcar seja sustentável (Biofuels Republic Brazil, nesta série). Entre as principais preocupações estão os impactos ecológicos e sociais, incluindo a segurança alimentar, que são especialmente importantes num país em que os direitos humanos e o direito à terra são muito problemáticos.
Há muitas contas falsas que inflacionam as poupanças de carbono. Por exemplo, não foi tida em consideração a enorme libertação de carbono do solo orgânico provocada pela cultura intensiva da cana-de-açúcar que substitui florestas e terras de pastagem nem o facto de que as florestas naturais, se fossem regeneradas, poupariam mais 7 toneladas de dióxido de carbono por hectare por ano do que o bioetanol poupa num hectare de cana-de-açúcar 33]. E esta não é a única forma de falsear a contabilização.
Os Falsos Créditos do Carbono no Biodiesel de Jatrofa no Sul de África
De acordo com as regras internacionais, nenhum dos gases com efeito de estufa ligados à produção de biocombustíveis será atribuído ao sector dos transportes. As emissões decorrentes da produção do biocombustível serão levadas à conta das emissões da agricultura e indústria e/ou sector energético. Do mesmo modo, todas as emissões provenientes do cultivo e refinação nos países do Terceiro Mundo, serão levadas à conta das emissões desses países, portanto um país, como o Reino Unido, que importe o biocombustível pode utilizá-lo para melhorar a sua quota de gases com efeitos de estufa. Isto permite que as nações importadoras ricas possam reduzir parte das suas emissões e reclamar os louros por fazê-lo ao abrigo do Acordo de Quioto. Foi assim que surgiram as plantações de árvores Jatrofa no Malawi e na Zâmbia.
A Jatrofa é uma planta resistente à seca que exige pouca ou nenhuma utilização de pesticidas ou fertilizantes. As sementes de Jatrofa podem ser colhidas três vezes por ano, e os subprodutos podem ser utilizados para fabricar sabão e até medicamentos. A refinação é feita na África do Sul. Muitos agricultores mudaram do tabaco para a Jatrofa, o que se considera ser uma coisa boa, visto que o tabaco é uma cultura muito agressiva para o ambiente. Até agora, há 200 000 hectares de Jatrofa no Malawi e 15 000 hectares na Zâmbia, quase todos sob um arrendamento formal ou acordos com a companhia D1-Oils, com sede no Reino Unido.
O sul da África é uma das regiões mais vulneráveis do mundo à mudança climatérica. Todos os modelos climatéricos prevêem que a região (não incluindo a maior parte da África do Sul, o Lesoto e a Suazilândia) virá a ser muito mais quente e mais seca, com secas mais frequentes e mais rigorosas, intercaladas por inundações mais graves. Isto pode provocar enormes perdas de colheitas e o colapso da produção alimentar.
Cerca de 80 por cento da população da Zâmbia depende da biomassa para todas ou para a maioria das suas necessidades energéticas, e só 12 por cento têm acesso à electricidade. No Malawi, 90 por cento da produção básica de energia provêm da biomassa, ou seja, da lenha e do carvão. A maioria dos rurais dependem da queima da lenha, muitas vezes em fogões pouco eficientes, que provocam grande poluição e são uma das principais causas de doenças e mortes. As mulheres e as raparigas são as mais afectadas.
As plantações de Jatrofa podem ter graves impactos na protecção dos alimentos e da energia da região, principalmente se se expandirem. Até agora, ainda não se fez qualquer análise do ciclo de vida nem qualquer estudo de sustentabilidade do biocombustível da Jatrofa.
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Necessidade Agora de Uma Auditoria Transparente do Ciclo de Vida, da Avaliação do Impacto Ambiental e de um Esquema de Certificação Obrigatória
É bastante óbvio que os biocombustíveis actualmente têm origem em formas muito diferentes, em que a maioria não é neutra em carbono. Há a necessidade agora de um estudo transparente do ciclo de vida de energia e de emissões de carbono e de outros critérios de sustentabilidade que englobem os impactos sobre a saúde, o ambiente e o bem-estar social. Muita gente reclama um esquema de certificação obrigatória baseado em critérios claros de sustentabilidade que salvaguardem os ecossistemas florestais mais sensíveis assim como a fertilidade a longo prazo das nossas terras e do nosso solo. Estes critérios também deviam garantir a soberania alimentar (o direito à segurança no abastecimento dos alimentos preferidos pela população) e os correspondentes direitos à terra e ao trabalho para todos.
Temos muitas alternativas renováveis e sustentáveis aos actuais biocombustíveis como se descreve no Relatório Energético do ISIS (Which Energy? ). Propusemos reunir estas opções numa ‘Quinta de Sonho 2’ sem desperdícios de alimentos nem de energia ( Dream Farm 2 – Story So Far , SiS 31). Uma das tecnologias nucleares utilizada é a digestão anaeróbica, que transforma os desperdícios (e poluentes ambientais) em nutrientes de culturas e pastagens e em energia sob a forma de biogás, composto em 60 por cento ou mais por metano, que pode ser utilizado tanto para alimentar carros como para produzir electricidade.
Estimei que se todos os desperdícios biológicos e do gado na Grã-Bretanha fossem tratados com digestores anaeróbicos obter-se-ia mais de metade do combustível de transporte do país ( How to be Fuel and Food Rich under Climate Change , SiS 31). É verdade que os veículos precisam de um motor diferente, mas já existem carros desses no mercado, e os carros alimentados a biogás de metano têm descargas tão limpas que foram eleitos como os carros ambientais do ano em 2005.
O mais significativo de tudo é que a ‘Quinta de Sonho 2’ funciona totalmente sem combustíveis fósseis. Conforme diz Robert Ulanowicz, professor de teoria da ecologia, “Aposto que as pessoas ficarão surpreendidas com a rapidez com que podem baixar os níveis de dióxido de carbono na atmosfera se deixássemos de queimar combustíveis fósseis”.
Ver Aquecimento global: uma impostura científica , de Marcel Leroux
Bushel – unidade de medida usada nas bolsas de futuros americanas para grãos e frutas (35,2 litros).
Eutroficação – enriquecimento de um ecossistema com nutrientes químicos, normalmente compostos contendo nitrogénio ou fósforo.
Leitora em Biologia na Open University, B.Sc. (Primeira Classe) 1964 e doutora em filosofia 1967, Hong Kong University; mais de 30 anos em investigação e 25 anos de ensino; cerca de 200 publicações sobre genética bioquímica, genética molecular, evolução, desenvolvimento biológico, e biofísica. Autora de The Rainbow And The Worm . Membro da Fundação Nacional de Genética (EUA). Consultora científica daRede do Terceiro Mundo e outras organizações de interesse público sobre biotecnologia e bio-segurança.
O Mito do Hidrogénio nos Transportes

Há muita conversa acerca da economia do hidrogénio. No melhor dos casos ela é ingénua, e no pior desonesta. Uma economia do hidrogénio seria na verdade uma coisa lamentável e paupérrima.
Há um certo número de problemas com as pilhas de combustível (fuel cells). Muitos deles referem-se ao engineering e provavelmente poderiam ser superados. Mas há um viés básico que nunca poderá ser ultrapassado: O hidrogénio livre não é uma fonte de energia – ele é um vector (carrier) de energia. O hidrogénio livre não existe neste planeta, de modo que para obtê-lo temos de romper moléculas que o contenham. Isto é devido à Segunda Lei da Termodinâmica, e não há volta a dar-lhe.
Estamos a trabalhar com catalisadores que ajudarão a reduzir a energia necessária para gerar hidrogénio livre, mas sempre haverá uma perda de energia, e os próprios catalisadores tornar-se-ão terrivelmente caros se tiverem de ser fabricados numa escala consentânea com as actuais exigências de energia dos transportes.
Praticamente todo o hidrogénio livre hoje produzido é obtido a partir do gás natural. Assim, sem qualquer dúvida, não podemos escapar à nossa dependência dos hidrocarbonetos não renováveis. Esta matéria-prima é tratada com vapor a fim de retirar o hidrogénio das moléculas de metano. E o vapor é produzido por água a ferver produzida com gás natural. Globalmente, há cerca de 60% de perda de energia neste processo. E, como está dependente da disponibilidade de gás natural, o preço do hidrogénio produzido por este método será sempre um múltiplo do preço do gás natural.

Dale Allen Pfeiffer
Ah!, mas existe uma fonte inexaurível de água a partir da qual poderíamos obter o nosso hidrogénio. Contudo, separar hidrogénio da água exige um ainda mais elevado investimento de energia por unidade de água (286kJ por mol ).
Os advogados do hidrogénio gostam de destacar que o desenvolvimento de células solares ou parques eólicos proporcionariam energia renovável que poderia ser utilizada para obter hidrogénio. A energia exigida para produzir 1 TWh (1 Terawatt-hora = 10 9 kWh) de hidrogénio é 1,3 TWh de electricidade. Mesmo com avanços recentes na tecnologia do fotovoltaico, os conjuntos de placas com células solares seria enormes, e teriam de ser dispostas em áreas iluminação solar adequada.
Também devemos considerar a água a partir da qual obteríamos este hidrogénio. Para cumprir as nossas actuais necessidades de transportes, teríamos de divergir 5% do fluxo do Rio Mississipi. Isto exigiria ainda mais energia, mais uma vez reduzindo os proveitos do hidrogénio. Esta água teria então de ser entregue a um conjunto de placas fotovoltaicas da dimensão das Grandes Planícies (Great Plains). Demasiado para a agricultura.
O único meio de a produção de energia poder aproximar-se da praticalidade é através da utilização de centrais nucleares. Para gerar a quantidade de energia utilizada actualmente pelos Estados Unidos seriam precisos 900 reactores nucleares adicionais, a um custo de aproximadamente US$ 1 mil milhões por reactor. Actualmente existem apenas 440 reactores nucleares a operarem em todo o mundo. A menos que aperfeiçoemos muito depressa os reactores reprodutores rápidos (breeders), haverá uma escassez de urânio muito antes de termos acabado o nosso programa de construção de reactores.
Mesmo o hidrogénio derivado da energia nuclear seria caro. Abastecer um carro com hidrogénio equivalente a 15 galões (56,7 litros) de gasolina poderia custar até US$ 400. Se o hidrogénio estivesse em forma gasosa, o seu reservatório teria de ser suficientemente grande para guardar 178.500 litros. A compressão do hidrogénio reduziria a dimensão do reservatório de armazenagem a um décimo. E o hidrogénio liquefeito exigir um reservatório com apenas quatro vezes a dimensão do reservatório de gasolina. Por outras palavras, um reservatório de gasolina com 15 galões seria o equivalente a um reservatório de hidrogénio com 60 galões (226,8 litros). E, naturalmente, transportar uma quantidade de hidrogénio com a energia equivalente para o posto de abastecimento exigiria 21 vezes mais camiões do que para a gasolina.
O hidrogénio comprimido e liquefeito apresenta problemas que lhe são inerentes. Ambas as técnicas exigem energia e assim, mais uma vez, reduz o rácio de energia líquida do hidrogénio. O hidrogénio liquefeito é bastante frio para congelar o ar, o que leva a problemas com acúmulos de pressão devido à obstrução de válvulas. Ambas as formas de armazenagem de hidrogénio são passíveis de fugas. De facto, todas as formas de hidrogénio puro são difíceis de armazenar.
O hidrogénio é o elemento mais pequeno e, como tal, pode escapar de qualquer contentor, não importa quão bem selado esteja ele. O hidrogénio em armazenagem evaporará à taxa de pelo menos 1,7% ao dia. Não poderemos armazenar veículos a hidrogénio em edifícios. Nem tão pouco podemos permitir que eles estacionem ao sol. E como o hidrogénio atravessa metais, ele provoca uma reacção química que torna os metais quebradiços. As fugas de hidrogénio também poderiam ter um efeito adverso tanto no aquecimento global como na camada de ozono.
O hidrogénio livre é extremamente reactivo. Ele é dez vezes mais inflamável do que a gasolina, e vinte vezes mais explosivo. E a chama do hidrogénio é invisível. Isto faz com que se torne muito perigoso trabalhar com ele, particularmente em postos de abastecimento e veículos de transporte. Os acidentes de tráfego teriam uma tendência a serem catastróficos. E há a possibilidade de que veículos mais velhos pudessem explodir mesmo sem qualquer colisão.
À cabeça de tudo isto devemos considerar a terrível despesa de converter da gasolina para o hidrogénio. A infraestrutura teria de ser construída virtualmente a partir do nada, a um custo de milhares de milhões. A nossa infraestrutura de petróleo e gás natural evoluiu ao longo do século passado, mas esta transição para o hidrogénio teria de ser feita em 20 anos ou menos.
Os engenheiros da indústria automóvel não acreditam que alguma vez tenhamos uma economia do hidrogénio. A Daimler-Chrysler admitiu isto. Ao invés de desenvolver uma economia do hidrogénio, faz mais sentido — e fará sempre mais sentido — comprar um carro mais eficiente, usar transporte público, andar de bicicleta ou ir a pé.
O original encontra-se em; http://www.energybulletin.net/11963.html